A data de 21 de Abril de 1792 marca, em nossa história, o sacrifício de Tiradentes. Anos atrás, não seria,
apenas, um feriado nacional. Nas escolas, era dia de festa cívica. O Hino Nacional Brasileiro, rotineiramente
cantado nas formaturas que antecediam o início das aulas, provocava naquela garotada uma forte emoção
e muitos chegavam às lágrimas. Crianças e adolescentes, em trajes de época, representavam cenas da
tragédia. Afinal, na véspera, os professores de História do Brasil focavam suas aulas na belíssima e
emocionante saga do mártir Tiradentes. No início dos anos 50, a televisão surgia no Brasil. Poucos
possuíam aquele caríssimo aparelho. O Rádio era o grande veículo da mídia sonora da época e Tiradentes,
pauta prioritária em programas e noticiários. Professores e escritores faziam depoimentos sobre o
sacrifício do precursor da independência do Brasil. Muitas vezes, rádio atores interpretavam personagens
históricos, no estilo das novelas radiofônicas. Nas organizações militares as comemorações ocorriam com o
habitual espírito cívico. Tempos distantes, de um país diferente. Hoje vivemos dias estranhos. Nas escolas,
onde a História do Brasil quase sempre é narrada de forma errônea e ideologizada, nossos heróis
verdadeiros são substituídos por vultos inexpressivos. A imagem do assassino argentino, travestido de
cubano, “Che” Guevara, campeia, livremente, em salas de aula, muros e camisetas. Na mídia televisiva, um
sinistro e lamentável silêncio se abate sobre a saga do Mártir da Independência e o sonho de liberdade dos
Inconfidentes. Há um claro propósito de ignorar ou, até mesmo, reescrever, ao arrepio da verdade, alguns
dos mais relevantes episódios da história da nossa pátria. Aliás, temem a palavra PÁTRIA como os vampiros
de ficção fogem da Cruz. Quem sabe, ainda conseguiremos reverter esse triste cenário. As futuras gerações
precisam do nosso esforço. E até, se necessário, como Tiradentes, do nosso sacrifício.

Rio de Janeiro, manhã de sábado, 21 de abril de 1792. Às onze horas e vinte minutos, depois de
penosa caminhada, sob um sol rigoroso, pelas principais ruas do centro, o Alferes Joaquim José da Silva
Xavier, subiu, sem medo, o patíbulo erguido no Campo da Lampadosa, atual Praça Tiradentes. Como
demorasse a morrer, o carrasco, um criminoso comum, montou-lhe nos ombros para abreviar o seu fim.
Segundo a sentença, Tiradentes, único executado entre os Inconfidentes, seria enforcado, decapitado e
esquartejado. Com o seu sangue, lavrou-se uma certidão de que fora cumprida a pena. Sua cabeça
apodreceu dentro de uma gaiola em Vila Rica. Os quatro quartos, conservados em salmoura, foram
colocados em postes, ao longo do Caminho Novo, na Capitania de Minas Gerais, onde o Alferes fazia as
“infames prédicas” pela liberdade de nossa pátria. Seus bens foram confiscados, as casas em que morou
arrasadas e salgadas, para que nunca mais, naquele chão, algo germinasse.

Joaquim José da Silva Xavier nasceu em 1746 na Fazenda do Pombal, localizada entre a Vila de São
José, hoje a cidade de Tiradentes, e São João Del Rei. Era filho do português Domingos da Silva Santos e da
brasileira Maria Antonia da Encarnação Xavier. Quarto filho entre sete irmãos perdeu a mãe aos nove anos
e o pai aos onze. Sua família, com muitas dívidas, ficou sem a pequena propriedade onde vivia. Joaquim,
menor de idade, acabou sob a tutela de um padrinho, cirurgião, residente na cidade de Vila Rica, hoje Ouro
Preto. Trabalhou como mascate e minerador. Foi sócio de uma botica de assistência à pobreza na Ponte do
Rosário, em Vila Rica, se dedicou também às atividades farmacêuticas e ao exercício da profissão de
dentista, o que lhe valeu o apelido de Tiradentes. Na carreira militar tinha o posto de Alferes,
correspondente hoje ao de segundo tenente e serviu no Regimento de Cavalaria Paga (os Dragões) da
Capitania das Minas Gerais. Solteiro, teve uma filha com uma viúva de nome Joaquina. Considerado líder
da Inconfidência Mineira, Tiradentes foi preso na Rua dos Latoeiros, hoje Gonçalves Dias, no Rio de
Janeiro, quando divulgava os ideais revolucionários de tornar o Brasil uma nação independente.

Visitei a cela onde Tiradentes esteve confinado. Muito bem cuidada, fica nas instalações do atual
Hospital Central da Marinha, na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro. Dali Tiradentes foi transferido para a
Cadeia Pública da cidade, conhecida como Cadeia Velha, demolida em 1922 (próxima do atual prédio da
Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), de onde partiu a pé para ser executado, por enforcamento, na
praça que hoje leva o seu nome. A Marinha do Brasil tem sob a sua guarda um dos mais importantes sítios
históricos brasileiros. Foi emocionante adentrar aquela masmorra, escura, fria e úmida, sabendo que há
mais de dois séculos o nosso herói maior ali padeceu pela liberdade do Brasil. Respiramos, por alguns
minutos, o ar mau cheiroso proveniente da umidade que emana das paredes de pedra. Paira no ambiente
uma profunda tristeza, face à forte emoção que emana do local. O sacrifício do Alferes Tiradentes, nosso
herói maior, que hoje completa 231 anos, deve ser lembrado com o merecido destaque. Pela Lei nº 4.897,
de 9 de dezembro de 1965, Joaquim José da Silva Xavier – Tiradentes, foi proclamado Patrono Cívico da
Nação Brasileira. Seu martírio, em última análise, retrata os ideais de liberdade e soberania do nosso povo,
gente humilde e trabalhadora, que repudia qualquer tentativa de condução do país por caminhos que não
se coadunem com os princípios democráticos e cristãos que forjaram a nação brasileira.

A LIGA DA DEFESA NACIONAL, entidade centenária difusora de cultura e civismo, criada em 1916 por
uma plêiade de brasileiros ilustres sob a liderança do poeta e jornalista OLAVO BILAC, patrono do
Serviço Militar no Brasil e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, através de sua Diretoria
do Rio de Janeiro, homenageia o PATRONO CÍVICO DA NAÇÃO BRASILEIRA.

“Libertas quae sera tamen”
(Liberdade ainda que tardia)

Rio de Janeiro, 21 de abril de 2023

SÉRGIO PINTO MONTEIRO
PRESIDENTE DA LDN – RJ

 

Obs: Imagens da cela de Tiradentes podem ser vistas em:
https://www.youtube.com/watch?v=QZYyQ5Yc0e